NOG | WhatsApp

Puerpério

por Equipe: NOG

Puerpério é a fase que inicia imediatamente após o parto e envolve uma série de transformações no corpo da mulher para que os órgãos recuperem suas características anatômicas e funcionais de antes da gravidez.

É um período cronologicamente variável, mas que pode levar meses para o completo restabelecimento orgânico. De modo geral, as modificações locais e sistêmicas ocorrem de forma mais expressiva durante os primeiros 40 dias de pós-parto, aproximadamente.

Do ponto de vista fisiológico, o puerpério é marcado por processos involutivos que se dão principalmente no aparelho reprodutor, além das alterações nos sistemas endócrino, cardiovascular, respiratório, hematopoiético, urinário e gastrintestinal.

As transformações puerperais não acontecem somente no aspecto físico. Os impactos emocionais também são intensos. Somando-se à redução abrupta dos níveis hormonais, a mulher passa por mudanças marcantes na rotina e nas esferas conjugal, familiar, profissional e social. Tudo isso exige adaptação psíquica, de modo que uma rede de apoio, formada por pessoas próximas e profissionais de saúde, é essencial durante o puerpério.

Fases do puerpério

O período puerperal começa logo após a saída da placenta. Apesar de utilizarmos cerca de 6 semanas como uma referência aproximada de tempo, o término exato do puerpério é imprevisto, pois as modificações no corpo da mulher podem se prolongar por meses, sobretudo se houver lactação.

O puerpério é dividido em 3 fases: imediato, tardio e remoto. No primeiro período, ocorrem os principais fenômenos para readaptar o organismo ao estado não gravídico. Na segunda fase, as mudanças no corpo acontecem em velocidade menor. Por fim, após os clássicos 40 dias, as modificações dependem da continuidade e da exclusividade da amamentação.

O pós-parto imediato começa com a dequitação placentária e dura 10 dias. As estruturas corporais que sofreram mais alterações durante a gravidez passam por rápidos eventos involutivos e catabólicos. As modificações nos órgãos reprodutores e nas funções endócrinas são as mais importantes.

Considerado o puerpério tardio, o período que vai do 10º ao 45º dia após o nascimento do bebê é uma fase de transição no corpo da mulher. A recuperação do aparelho genital continua, embora mais lentamente. A lactação é determinante para influenciar as transformações e as novas funções do organismo.

A partir do 45º dia após o parto, define-se o puerpério remoto. Trata-se de uma fase de duração imprecisa e muito relacionada com a lactação. Por exemplo, mulheres que aderem à amamentação exclusiva tendem a ficar sem menstruar durante esse período. Já para as mães que não amamentam ou o fazem de forma intercalada com a oferta de fórmulas infantis, a função ovulatória e os ciclos menstruais podem voltar ao normal.

Mudanças anatômicas e fisiológicas durante o puerpério

Aparelho reprodutor

O que mais muda no corpo da puérpera é o aparelho reprodutor, notadamente o útero que passou por grandes alterações para manter o feto. No puerpério imediato, o útero ainda está localizado na região abdominal, seu retorno à pelve se completa entre o 10º e o 14º dias, quando o órgão já apresenta menos de um terço do peso que tinha no momento da saída da placenta.

O processo de involução uterina é mais rápido na lactante. O estímulo dos mamilos e a liberação de ocitocina no momento da amamentação ajudam nas contrações uterinas que levam o órgão, gradativamente, às suas condições anteriores. Isso explica as cólicas referidas por algumas mulheres quando estão amamentando.

Contudo, mesmo com os processos involutivos do útero, algumas mulheres podem ficar com diástase da parede abdominal, o que é mais comum após o segundo parto, devido ao maior volume do órgão.

O colo uterino também se restaura rapidamente, estando fechado em torno do 10º dia de puerpério, assim como a vulva e a vagina que têm suas pequenas lacerações cicatrizadas ainda nos primeiros dias de pós-parto. No entanto, é normal a atrofia vaginal (ressecamento), principalmente nas lactantes.

O sangramento pós-parto dura entre 2 e 5 semanas, resultante da involução uterina e da regeneração da ferida placentária, além das demais lesões ocorridas na genitália interna no momento do parto. Essa perda sanguínea puerperal é chamada de lóquios.

Trato urinário

As modificações nesse sistema estão relacionadas, sobretudo, à capacidade aumentada da bexiga. Superdistensão, esvaziamento incompleto e resíduo urinário também são comuns. Além disso, a suscetibilidade a infecções urinárias pode aumentar nesse período.

Sistema cardiovascular

A alteração cardiovascular é mais significativa nas primeiras horas de pós-parto, devido ao aumento do volume de sangue circulante. Isso pode caracterizar a condição de sopro sistólico de hiperfluxo, sendo um momento crítico para mulheres com cardiopatias, que precisam de atenção médica redobrada.

Aparelho digestório

As vísceras abdominais voltam à sua posição normal e o esvaziamento gástrico melhora devido à descompressão do estômago. O esvaziamento intestinal pode ficar comprometido, a princípio. Além disso, hemorroidas podem surgir ou se agravar em razão dos esforços do período expulsivo do parto.

Sistema hematopoiético

A quantidade de células que compõem o sangue também é alterada no puerpério. Nos primeiros dias, a mulher apresenta elevados níveis de leucócitos e de plaquetas, situação que aumenta o risco para o aparecimento de trombose. Após cerca de uma semana, as taxas voltam ao seu habitual.

Mamas

As mamas aumentam de volume. Além de cheias, podem ficar endurecidas e doloridas. Os bicos dos seios também podem doer no início da amamentação e, inclusive, sofrer rachaduras. Após algumas semanas, esses sintomas tendem a melhorar.

Parte das alterações descritas até aqui são influenciadas pela intensa alteração hormonal que ocorre no pós-parto. Exemplos são a redução drástica de progesterona e estrogênio e o aumento da prolactina, que atua, sobretudo, na lactação.

Risco de infecções

Para finalizar, é importante mencionar que o sistema imunológico materno também sofre alterações, aumentando a predisposição para infecções no puerpério, incluindo endometrite (na parte interna do útero), mastite (nas mamas), pneumonia e infecção urinária.

Alguns dos fatores de risco para as complicações puerperais são: anemia materna, diabetes, falta de assistência pré-natal, parto vaginal traumático ou prolongado, cesariana, placenta prévia e hemorragia pós-parto.

Aspectos emocionais no puerpério

As alterações hormonais somadas às intensas mudanças na rotina tornam o puerpério um período marcado por impactos emocionais. Nesse momento, a atenção dos familiares, amigos e dos profissionais de saúde também deve se voltar para a mãe, e não somente para o bebê, formando uma rede de apoio à nova vida de ambos.

O cansaço, o sono acumulado, as dores que podem ter restado do parto e a demanda constante dos cuidados com o bebê são desafios que a puérpera enfrenta. No meio disso, a mulher pode se encontrar diante da disparidade entre a maternidade idealizada e a maternidade real.

É uma fase delicada e que abre espaço para a labilidade emocional que pode evoluir para uma série de desequilíbrios psicológicos, como esgotamento, apatia, tristeza e melancolia transitórias, estresse agudo, compulsões e até episódios graves de depressão pós-parto e psicose puerperal. Nesses últimos casos, as pessoas próximas precisam ficar atentas e solicitar ajuda profissional rapidamente.

Outros aspectos importantes que podem mexer emocionalmente com a mulher durante o pós-parto são a autoestima e a sexualidade. Com as tantas alterações que ocorrem no corpo, é comum que a puérpera se sinta incomodada com a estética. Além disso, a atrofia vaginal pode dificultar as relações sexuais no início.

Diante de todas essas questões, ressalta-se a importância da consulta ginecológica no puerpério. Assim, a mulher pode conversar com seu médico, esclarecer dúvidas sobre as modificações que tem enfrentado, além de receber orientação sobre contracepção, amamentação e cuidados gerais com a saúde.