O conceito de saúde nos leva imediatamente a pensar em ausência de doença. Em um sentido mais amplo, podemos acrescentar outros itens que favorecem a promoção de saúde e a prevenção de enfermidades, incluindo: nutrição adequada, atividade física, qualidade do sono e controle do estresse. Com essas ações, é possível, inclusive, evitar o sobrepeso ou pré-obesidade.
A obesidade é vista como uma doença crônica e de alta prevalência, com importantes impactos na saúde do indivíduo, se considerarmos o risco aumentado para diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, osteoartrite, apneia obstrutiva do sono, entre outros malefícios.
Ainda que o índice de massa corporal (IMC) seja menor em pessoas com pré-obesidade em relação aos indivíduos obesos, os riscos à saúde também existem. Sendo assim, os cuidados com o ganho excessivo de peso durante a gestação são fundamentais.
O sobrepeso materno e o excesso de ganho de peso durante a gravidez estão relacionados a riscos antenatais, intraparto, pós-parto e neonatais. Além de um possível desfecho obstétrico desfavorável, a pré-obesidade da gestante pode favorecer o desenvolvimento de problemas de saúde em outras fases da vida, tanto para a mãe quanto para o filho.
A obesidade é uma síndrome metabólica crônica e multifatorial decorrente de um desequilíbrio entre a ingestão de calorias e o gasto calórico. Sua característica principal é o aumento na quantidade e no tamanho das células adiposas, resultando em acúmulo de gordura em diferentes locais do corpo, principalmente na região abdominal.
As mulheres podem apresentar gordura localizada no abdome, assim como na região do quadril. Além disso, outros sintomas associados ao excesso de peso, tanto no homem quanto na mulher, incluem cansaço, inchaço, suor excessivo, dores nas articulações e, em graus avançados, dificuldade para se movimentar.
O índice de massa corporal é recomendado na prática clínica para o cálculo do peso saudável e a definição do grau de obesidade. Com base nesse índice, temos os seguintes valores de referência:
Maus hábitos alimentares e sedentarismo são os principais fatores de risco para o sobrepeso. Entretanto, a obesidade é uma condição multifatorial, de modo que também engloba outras dimensões, como os aspectos psicológicos, a predisposição biológica de cada indivíduo e a influência do meio social e cultural.
De fato, o estilo de vida é determinante para a prevenção da pré-obesidade. O desenvolvimento dessa condição depende de interações entre o perfil genético e os fatores ambientais, como alta ingestão de calorias, consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, inatividade física e sono insuficiente.
Como visto, muitos dos fatores que levam ao sobrepeso e à obesidade são modificáveis. Apesar disso, nem sempre os aspectos genéticos, hormonais e emocionais envolvidos no ganho de peso são fáceis de controlar, o que torna a manutenção do IMC saudável um desafio.
A gravidez e o aumento de peso estão interligados fisiologicamente. Durante essa fase, o corpo da mulher passa por transformações em vários sistemas, demandando mais energia para cumprir suas funções extras.
No final do segundo e no terceiro trimestre gestacionais, conforme o feto cresce e requer mais nutrientes, a gestante também pode sentir um considerável aumento de apetite. Entretanto, é nesse momento que as escolhas alimentares adequadas e as refeições fracionadas são importantes para prover nutrição suficiente ao bebê, mas cuidando para que a ingestão calórica não seja além da necessária.
O peso da mulher antes da gestação também é considerado um dos fatores mais influentes no ganho de peso gestacional. Sendo assim, é recomendado buscar acompanhamento médico e orientação nutricional para mudanças nos hábitos alimentares já na fase preconcepcional. Isso abrange, ainda, uma rotina de atividades físicas, priorizando as práticas moderadas e de baixo impacto.
Com essas medidas, a faixa de ganho de peso recomendada de acordo com o IMC materno apresentado no início da gravidez é de:
Apesar do apetite aumentado, do estado de ansiedade e outros possíveis desafios durante a gestação, um ponto favorável é que as mulheres estão mais dispostas a assumir um estilo de vida saudável nesse período. Isso porque há uma conscientização sobre os riscos obstétricos associados à pré-obesidade, da mesma forma que se esclarece a importância dos cuidados nutricionais maternos para os benefícios à saúde do filho.
Assim como a obesidade impõe uma série de riscos à saúde de modo geral, o sobrepeso tem seus impactos durante a gestação, estando associado a resultados maternos e perinatais desfavoráveis.
Dessa forma, mulheres obesas ou com pré-obesidade apresentam risco aumentado para:
Ainda antes da gravidez, a obesidade pode ser um fator negativo para a fertilidade. Mulheres obesas têm mais chances de desenvolver distúrbios hormonais, desencadeando falhas de ovulação e baixa receptividade uterina.
Os impactos se estendem para depois do parto. A mulher pode ter retenção do excesso de peso pós-gestacional e aumento do risco para doenças como o diabetes mellitus tipo 2. Por sua vez, o indivíduo que foi exposto no meio intrauterino aos efeitos do sobrepeso materno pode sofrer alterações na programação genética e metabólica que favorecem o desenvolvimento de doenças na vida adulta, incluindo a própria obesidade.
Por todas as questões que levantamos neste texto, reforçamos a importância do controle do peso e da nutrição adequada em todas as fases da vida, mas, especialmente, antes e durante a gestação. Sendo assim, fica o alerta para que as mulheres com pré-obesidade procurem o acompanhamento médico desde o período preconcepcional, a fim de oferecer melhores condições de saúde para o desenvolvimento de seu filho, desde a vida intrauterina.